No embalo das Eleições 2022, quando Jair Bolsonaro, candidato a presidente, e Zequinha Marinho, candidato a governador, foram derrotados no Pará, mas tiveram votações expressivas no sul e sudeste do estado, o forte movimento de direita na região arquiteta um levante contra a quase onipotência do MDB. São nomes consolidados na política da região recebendo o apoio do próprio Bolsonaro, de Zequinha e dos deputados federais Éder Mauro, Joaquim Passarinho e Caveira.
PLANJAMENTO
Planejando uma “Primavera de Carajás”, a direita aposta fichas nas amplas votações que obteve em cidades-chave da região onde seria o estado de Carajás. Por razões identitárias ligadas ao agronegócio, à religião e ao conservadorismo, cidades como Parauapebas, Canaã, Marabá, Xinguara, Redenção e Rondon do Pará elegeram Bolsonaro e não Lula, que acabou vencendo a eleição. Por coincidência ou não, todos esses municípios são governadas pelo MDB ou possuem fortes candidatos liderando a corrida eleitoral em 2024 pelo partido.
APOIO POLÍTICO
Em Marabá, o deputado estadual Toni Cunha corre por fora na disputa eleitoral. Está atrás nas pesquisas do também deputado estadual Chamonzinho (MDB). No entanto, uma reviravolta política pode impulsionar a candidatura de Toni e fazer com que ele tenha forças para bater de frente com Chamon: o apoio do atual prefeito, Tião Miranda, que é falado nos bastidores. Tião é o maior político da história recente de Marabá, porém não encontrou sucessores a altura dentro do próprio grupo político. Agora, muito se fala de um apoio a Toni e a reedição de uma parceria que deu certo em 2016.
O DUELO
Em Parauapebas, Aurélio Goiano é o principal nome da direita. Desde que foi eleito em 2020, se posiciona contra o prefeito Darci Lermen, que é uma das maiores estrelas do MDB no sul e sudeste do estado. Lermen deve indicar Rafael Ribeiro, também do MDB, como sucessor. O duelo, no fim das contas, deve ser Aurélio x Rafael e daí sairão lascas. O grito de oposição contra a força de uma das mais poderosas máquinas públicas do Brasil.
HISTÓRICO POLÍTICO
Em Canaã dos Carajás, para além do que o Instagram consegue ver, a disputa deve ser ainda mais acirrada. Jeová Andrade, pioneiro do município, presidente da comissão que emancipou Canaã, prefeito por oito anos e responsável pela eleição da atual gestora, Josemira Gadelha, rompeu com o MDB, renunciou à primeira suplência na Alepa e se filiou ao PL. Maior nome da história política de Canaã, Jeová vai enfrentar a pessoa que colocou no poder, que tem a mais poderosa máquina pública do Brasil e o maior marketing/per capita do Pará. A seu favor, o peso da própria história política e o eleitorado conservador em Canaã, que deu mais de 60% dos votos a Bolsonaro e quase 70% a Zequinha em 2022.
FORÇA DA MÁQUINA
Em Xinguara, Enric Lauriano deve ser o nome do PL na disputa majoritária. Empresário, pecuarista e segundo colocado nas Eleições 2020, vem forte para a disputa e terá de enfrentar, além do MDB de Osvaldinho Assunção, a força da máquina pública, gerida por Dr. Moacir. Xinguara, a Terra do Boi Gordo, epicentro do agronegócio no sul do Pará, dá chances reais a Enric na disputa.
EM CRESCIMENTO
Cem quilômetros adiante na BR-155, Redenção tem uma das disputas mais abertas do estado. A direita, ao que tudo indica, terá o vereador Leandro Onofre como representante. O parlamentar terá o apoio do prefeito Marcelo Borges e do deputado federal Joaquim Passarinho, que até transferiu o título para o município. Do outro lado, há o jovem Gabriel Salomão, do MDB. Há ainda a forte figura de dr. Rener, que cresce nas pesquisas.
NA LIDERANÇA
Na BR-222 em Rondon, Arnaldo Rocha está fechado com o Republicanos, partido de Tarcísio Freitas, governador de São Paulo que é, depois de Bolsonaro, o maior líder político de direita no Brasil. Ex-prefeito do município, Arnaldo consegue agregar apoios diversos e não vai basear sua campanha no discurso contra a esquerda. Inteligente, articulado e querido, Rocha lidera as pesquisas e vai enfrentar a prefeita Adriana Andrade, do MDB, nas urnas.
DETALHE
termo “Primavera de Carajás” não foi utilizado por ninguém até o momento, trata-se de uma alusão feita pela reportagem à Primavera Árabe, movimento registrado no Oriente Médio e na África entre os anos de 2010 e 2012. Na ocasião, levantes populares depuseram poderosos líderes que estavam no poder há muito tempo.
No sul e sudeste do Pará, o sentimento é parecido. Na maior parte dos municípios citados, o presidente Lula, o governador Helder e o MDB possuem alta rejeição. A ideia é enfraquecer as bases do governador na região, dando vazão ao antipetismo – sentimento que é forte nestes municípios.
No entanto, “primaveras” não acontecem pela pura e simples vontade de alguns. As flores só brotam no tempo propício. A pergunta é: 2024 é tempo propício para a primavera? Os meses seguintes dirão.
Mas, diante disso tudo, algo é certo: o sentimento existe e a primavera é uma questão de tempo. Resta saber se o MDB, principal adversário dos líderes citados, vai se adaptar às realidades ou esperar de braços cruzados a temporada das flores.
Mín. 20° Máx. 33°