No Pará, apenas 32,9% dos estudantes concluíram o ensino fundamental na idade certa (até os 15 anos), sendo o estado do Brasil com o menor percentual, ficando na frente até de Sergipe, que tem 34,5% e é um estado com uma população bem menor que a do Pará.
A pesquisa foi realizada pela Fundação Itaú, para identificar aqueles que estão sendo excluídos e deixados para trás no sistema escolar. Na pesquisa, foram analisados os alunos nascidos entre 2000 e 2005 em um período de 12 anos (de 2007 a 2019).
A pesquisa representa um importante indicador para entender, qualificar e tomar decisões para garantir o direito desses estudantes e atuar pela redução das desigualdades.
O estado do Pará está atrás de todos os estados do Brasil, tendo o maior número de estudantes que não concluem o ensino fundamental até os 15 anos.
Veja o gráfico com o número de estudantes que concluíram o ensino fundamental na idade correta:
Cenário nacional
O Pará está bem abaixo da média do país. No cenário nacional, apenas 52% da população nascida entre 2000 e 2005 conseguiu concluir o ensino fundamental na idade adequada. Para o ensino médio, apenas 41% dessa mesma população finalizou a etapa na idade esperada. Desse público, cerca de 10% dos estudantes dessa população evadiram do sistema de ensino antes de completar o ensino fundamental, e 24% antes de completar o ensino médio.
‘As trajetórias educacionais são pouco regulares para os estudantes da educação básica de forma geral, e a falta de regularidade é um problema ainda maior para estudantes do sexo masculino, que estudam em escolas de baixo nível socioeconômico, com deficiência, negros e indígenas e moradores das regiões Norte e Nordeste’, detalha a pesquisa.
Conheça o indicador das trajetórias:
Trajetória regular: representa o aluno que ingressou na idade certa na escola, progrediu a cada ano e concluiu todas as etapas de ensino. Essa é a trajetória desejável e que deveria ser garantida para todos os estudantes do Brasil;
Trajetória com pouca irregularidade: é aquela em que há uma ou duas intercorrências, como entrada tardia e episódios de reprovação e/ou abandono;
Trajetória com muita irregularidade: representa mais de dois anos de defasagem devido às mesmas ocorrências;
Trajetória interrompida: quando o estudante evade ou abandona a escola e não retorna ao sistema no período de tempo analisado.
O indicador apresenta ainda informações que não têm sido objeto de pesquisas no campo da educação, como entrada tardia, abandono e conclusão de etapas de ensino na idade certa, além de descrever desigualdades na qualidade da permanência escolar entre grupos sociais, de maneira longitudinal. Por exemplo:
Nível Socioeconômico
A pesquisa evidencia que os estudantes com nível socioeconômico mais alto apresentam trajetória escolar expressivamente melhor do que os mais vulneráveis. Assim, enquanto 70% dos alunos do primeiro grupo apresentam trajetórias regulares, apenas 38% daqueles de escolas mais vulneráveis conseguiram iniciar e finalizar o Ensino Fundamental na idade correta.
Sexo
A regularidade é um desafio ainda maior para estudantes do sexo masculino que estudam em escolas de menor nível socioeconômico, deficientes, negros e indígenas. Já para as meninas, a qualidade da permanência nas escolas é superior. Cerca de 58% delas têm trajetórias de nove anos regulares, contra 46% entre os meninos.
Grupos de raça/cor
Segundo o indicador, a trajetória regular entre estudantes negros (pretos + pardos) é aproximadamente 20 pontos percentuais menor do que entre os brancos. Em relação aos indígenas, esse número está em torno de 40pp. Os dados mostram que estudantes brancos possuem regularidade de 62%; pardos, 46%; pretos, 41%; e indígenas, 23%.
Estudantes com deficiência
O levantamento aponta que apenas 22% dos estudantes com deficiência têm trajetória regular, entre 2011 e 2019, contra 53% dos sem deficiência. Aproximadamente 56% deles apresentam percursos com muita irregularidade; 64% têm trajetórias com irregularidades (concluem o Ensino Fundamental com intercorrências); e cerca de 14% evadem.
Gravidez precoce
Os números mostram uma realidade que vai muito além do período pesquisado. A manicure Helzimar Oliveira Rodrigues, 51 anos, não completou os estudos a tempo e precisou adiar por duas vezes o retorno às salas de aula.
Aos 17 anos, Maninha, como é conhecida, ainda estava no 7º ano do ensino fundamental (na época chamada de 6ª série) e teve de interromper os estudos porque engravidou. ‘A discriminação foi muito intensa, por eu ser muito nova e estar grávida’, contou.
‘Quando eu tive meu segundo filho, com 19, até que eu tentei voltar a estudar, mas também não deu muito certo’. Foi só a partir dos 25 anos que Maninha conseguiu retornar à escola.
‘Eu queria ter tido a chance de fazer uma faculdade. De estar em um emprego bom, mas não tinha como, porque eu tinha que trabalhar para cuidar dos filhos. Então, assim, meu sonho de faculdade, eu tinha que esquecer que naquela época meu sonho era poder cuidar deles’, lembrou.
Atualmente, Helzimar está desempregada e faz ‘bicos’ de manicure. Ela detalhou também como funcionava a rotina com as crianças em casa, trabalhando e estudando. ‘O tempo que eu tinha com eles era preparando os projetos da EJA [Educação de Jovens e Adultos]’.
‘Então foi assim a minha vida: eu engravidei nova, tive dois filhos nova, casei nova, separei nova e terminei o meu estudo um pouco velhinha, porque eu já tinha trinta e poucos anos quando eu terminei o ensino médio’, completou.
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